“Posso dizer sem exceção ou equívoco que os Estados Unidos não vão torturar”. Estas foram as palavras do recém-empossado Barack Obama, no dia 22 de janeiro de 2009, em relação a uma de suas primeiras ações como presidente: o fechamento do Campo de Detenção de Guantánamo, em Cuba.

Concedida aos EUA como estação naval em 1903, a Baía de Guantánamo localiza-se no sul de Cuba. É o local onde se encontravam os prisioneiros de guerra do Iraque e do Afeganistão, desde 2002, após os ataques terroristas de 11 de setembro. Segundo a Cruz Vermelha internacional e o próprio FBI, os detentos, que hoje são 245, foram vítimas de tortura e não possuem nenhuma acusação formal. A Anistia Internacional afirma: “Guantánamo é o símbolo da injustiça e do abuso, e deve ser fechada”.


O fechamento da prisão é, aos olhos de boa parte do mundo, uma atitude radical, uma ruptura política em relação ao Bush. Para o coordenador do curso de História da Unipar (Campus Francisco Beltrão), Ismael Vannini, o ato parece ter mais peso do que realmente tem. Conforme Vannini, Cuba já não representa mais uma ameaça aos EUA. “O país está passando por um processo de abertura, o movimento vindo do socialismo, forte nas décadas de 60 e 70, perdeu muito peso com a queda da união soviética, com a criação da Comunidade dos Estados Independentes e agora, com a saída de Fidel”, comenta o coordenador.


Outro ponto de destaque é a linha política tanto de republicanos quanto de democratas, algo que está escrito na tradição do país: o conservadorismo. “Conservadorismo no sentido de manter a política de ação dos EUA. Não se trata de conservadorismo no sentido estrito da palavra, pois foi nos EUA que inúmeros movimentos de vanguarda emergiram, para depois conquistar o mundo. As forças que estavam ao lado Obama jamais o teriam elegido se fosse alguém que prometesse uma mudança drástica, profunda e radical. Ninguém chegaria a representar essa nação se tivesse um cunho ideológico de ruptura”, justifica o professor. Como exemplo, tem-se a grande crise de 1929, quando, mesmo com todos os problemas enfrentados, não se optou por mudança: Roosevelt foi reeleito.

Sobre a imagem de Obama, Vannini deixa sua posição. “Não vou dizer que ele não mudará alguma coisa em beneficio dos outros países, mas em hipótese alguma em detrimento dos EUA”, diz o historiador. “Temos que levar em consideração o contexto mundial econômico, no qual os EUA é o centro nervoso. O pais terá que rever toda sua relação de mercado com os outros países, isso sim poderá representar uma mudança. Mas fará algumas concessões que irá beneficiar, mas por pura necessidade estratégica, longe daquilo que muitos esperam. Ou seja, que adotem uma postura de ajuda descomprometida perante outras nações. Complementa analisando o discurso de posse e afirma: “Ele busca raízes históricas nas justificativas das próprias guerras internas. Quer dizer, se tiver que ser feita uma guerra lá fora, isso acontecerá. A política norte-americana será seguida. A possibilidade de reduzir a ação militar externa, diz respeito a questões de gastos apenas. Manter as tropas no Oriente Médio, representa um gasto faraônico aos cofres dos EUA”, conclui o professor.

Como um símbolo de abuso dos direitos humanos, a prisão de Guantánamo desgastou a imagem dos EUA no mundo. Obama havia se comprometido a fechar o polêmico campo de detenção durante a campanha eleitoral. Tendo sido eleito, Obama deverá, em um ano, responder o que fazer dos prisioneiros.


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